terça-feira, 3 de março de 2015

Simulação de uma caminhada: movimento da função e da fantasia

A característica de balanço da Flymoon® viabiliza, dentre muitas outras possibilidades, a simulação de uma caminhada, sendo que, ao invés da alternância entre ponto fixo e ponto móvel (chão e perna que dá o passo), teremos as duas pernas apoiadas todo o tempo, em cadeia cinética fechada e, simultaneamente, pela característica do arco, as duas pernas estão realizando movimento todo o tempo, alternando-se entre contrações concêntricas e excêntricas. A negociação entre permitir que a gravidade atue e frear o movimento, regulará a velocidade dessa ‘caminhada’, que foi o primeiro movimento sistematizado como exercício e batizado de 'Andando na Lua'.
A desaceleração na fase da descida é um movimento atípico na nossa esfera terrestre. É uma aparente subversão da gravidade inesperada por quem se move e por quem assiste ao movimento. Cria a interessante ilusão de que aquela caminhada está sendo feita num ambiente de gravidade reduzida, na lua ou dentro d’água, despertando curiosidade e obrigando quem pratica e quem observa o movimento a reconfigurar sua percepção, deslocando o sentido de realidade, capaz de alimentar seu imaginário e fazer crer em impossibilidades que se realizam: ‘como é possível que o efeito da gravidade seja diferente naquele corpo?’. Esta ilusão é possível apenas – neste caso específico – pelo uso do equipamento. 



                               

segunda-feira, 2 de março de 2015

O primeiro insight


O primeiro insight foi ficar em pé sobre as bordas. Esta foi a posição que iniciou todo o trabalho. A posição bípede (com o apoio de um pé sobre cada borda da Flymoon®), a mais imediata para a maioria das pessoas, apesar de muito familiar no chão, torna-se inédita e estranha sobre a base abaulada, móvel e estreita, que é a Flymoon®. 

Estar em pé sobre esta base instável não é o mesmo que estar em pé sobre o chão plano e fixo. O arco revela qualquer variação na distribuição de peso entre as pernas, mais comuns do que imaginamos, gerando pequenos balanços involuntários ao tentarmos equilibrar o peso igualmente sobre os dois pés. No imediato momento em que balançamos, entram em ação os sistemas de equilíbrio do corpo – visão, labirinto e sensores proprioceptivos , que trabalham acionando, involuntariamente, a musculatura mais profunda, estabilizadora, para nos manter em equilíbrio.


Não há indicação externa que possa solucionar o seu desequilíbrio de forma tão rápida e eficaz quanto a sua própria inteligência corporal. Essa ‘autoridade’ sobre o próprio esquema corporal é constituinte de todo o trabalho sobre a Flymoon®, que privilegia a autonomia na construção do próprio conhecimento motor. A competência vai sendo desenvolvida a partir da experiência, irrepetível e insubstituível, que não pode ser ‘dada’ pelo professor. Portanto, a busca criativa é parte fundamental desse processo. Quando o movimento está associado à fantasia, imaginação, poesia e ludicidade, existe motivação e a ação fica repleta de sentido. 







domingo, 1 de março de 2015

About the hidden obvious and the baptism of Flymoon® / Sobre o óbvio oculto e o batismo da Flymoon®

According to Stephen Nachmanovitch (1993)
"Many of the major scientific, artistic and spiritual discoveries were actually revealing a surprising truism that no one so far had managed to see or imagine because they were all too frightened or too attached to traditional thinking."
Inspired by the swing, by the passion for everything that takes me off the floor, by the possibility of playing physically and symbolically with gravity, in 2001, on my research about movement in the Pilates studio and on the rehearsals of Ideias de Teto, I reversed the Half Moon, then supported its convex face on the floor and teased the instability that would completely change my life.
I wasn't able to find any records that this reversal had been tested before by any follower or practitioner of Pilates technique and not even by himself, which caused me great surprise, because at that time such use seemed so obvious, that I had no idea of the size of the novelty that was arising.
The new use made of the Half Moon already indicated the rise of something new. Conceptually, it had changed its purpose, it was no longer the same Half Moon. I started to call that new idea "reversed Half Moon" until, with the conceptual, methodological, material and commercial development that invention began to demand, Cláudio Soares (partner in this construction) suggested the name Flying Moon. I really liked it, but it still needed to be leaner and simpler, as the arc itself. I suggested Flymoon, one word only, with a poetic license to English grammar. And then we decided to leave it like this.
What was not predictable at the time was how much this invention would synthesize and symbolize everything that moves me and interests me; how much of a 'key' for new discoveries of my past and future choices it would mean; how much aggregating it would be to so many environments and so many professionals, who meet each other because of the movement.

Segundo Stephen Nachmanovitch 
(1993)

"Muitas das grandes descobertas científicas, artísticas e espirituais foram na verdade a revelação de uma obviedade surpreendente que ninguém até então havia conseguido ver ou imaginar porque estavam todos demasiadamente amedrontados ou excessivamente apegados ao pensamento tradicional."

Inspirada pelo balanço, pela paixão por tudo o que me tira o chão, pela possibilidade de brincar física e simbolicamente com a gravidade, em 2001, nas pesquisas de movimento no estúdio de pilates e nos ensaios de Ideias de Teto, inverti a Meia Lua, apoiei sua face convexa no chão e provoquei a instabilidade que mudaria completamente a minha vida. 

Não encontrei registros de que essa inversão tenha sido testada antes por nenhum seguidor ou praticante da técnica de Pilates e nem por ele mesmo, o que me causou imensa surpresa, pois, naquele momento, aquela utilização me parecia tão óbvia, que não tive a noção do tamanho da novidade que estava surgindo.

O novo uso dado à Meia Lua já apontava para o nascimento de algo novo. Conceitualmente, aquilo tinha mudado de função, já não era mais a mesma Meia Lua. Passei a chamar aquela nova ideia de Meia Lua invertida, até que, com o desenvolvimento conceitual, metodológico, material e comercial que esse invento começava a demandar, Cláudio Soares (parceiro nesta construção) sugeriu o nome Flying Moon. Gostei muito, mas ainda precisava ser mais enxuto e simples, como o próprio arco. Sugeri Flymoon, numa única palavra, numa licença poética à gramática inglesa. E em consenso deixamos assim.


O que não era previsível na época era o quanto essa invenção sintetizaria e simbolizaria tudo o que me mobiliza e me interessa; o quanto significaria uma 'chave' para novas descobertas das minhas escolhas passadas e futuras; o quanto seria agregadora de tantos ambientes e de tantos profissionais, que encontram-se pelo movimento. 

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

The Poetic Dimension of technique, or: the road is built on the walk / A Dimensão Poética da técnica, ou: o caminho se constrói no caminhar

In the popular imagination, the meaning of the word 'technique' is associated with rigid, pre-set procedures, with known objectives, near to a scientific understanding, which would require objectivity, impartiality, accuracy and reproducibility. Looking from this angle, the meaning of 'technique' is detached from its Poetics Dimension.
Reinstate the Poetics Dimension to the sense of the word 'technique' is important to me because it lowers the mystery around the ability to make art, to choreograph, or to create, even if the creation belongs to a repertoire of movements for non-artistic purposes. Every creative act is linked to ways of doing, it generates a 'modus operandi', it creates paths that can be learned. It's the result of study, research and work. It's technical development. 
The creative process of movement is done through the poetic demands, generating questions, from which bodily responses (techniques) are built. They produce what we see as an artistic result. These techniques are the result of non-predictable poetic demand and non-existent prior to the creative process experience. The path is built with the walk itself. In such cases, it is evident the technical-poetic, art-technical indissociation. It's like playing. On or off stage, with private or public applications, in any case: playing is necessary!











No senso comum, o sentido da palavra técnica é associado a procedimentos rígidos, pré-estabelecidos, com objetivos conhecidos, com significado próximo de um entendimento cientificista, que pressupõe objetividade, imparcialidade, exatidão e replicabilidade. Olhando por esse prisma, o sentido de 'técnica' está desprovido da sua Dimensão Poética.
Reintegrar a Dimensão Poética ao sentido da palavra técnica é importante para mim, porque diminui o mistério sobre a capacidade de fazer arte, de coreografar, ou de criar, mesmo que a criação seja de um repertório de movimentos para finalidades não-artísticas. Todo ato criativo está vinculado a maneiras de fazer, gera 'modus operandi', cria caminhos que podem ser aprendidos. É fruto de estudo, pesquisa e trabalho. É desenvolvimento técnico.
O processo criativo no movimento é feito através das demandas poéticas, que geram perguntas, a partir das quais são construídas respostas corporais (técnicas), que produzem o que vemos como resultado artístico. Essas técnicas são fruto da demanda poética não-previsíveis e não-existentes antes da vivência do processo criativo. O caminho se constrói com o próprio caminhar. Nesses casos, fica evidente a indissociação técnica-poética, arte-técnica. É como brincar. Em cena ou fora dela, com aplicações íntimas ou públicas, em qualquer hipótese: brincar é preciso!

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Sensitivity and confidence in the experience of instabilities / Sensibilidade e confiança na vivência de instabilidades

The first time someone steps on the Flymoon®, sensitivity is required from the teacher. In general, the teacher can only superficially indicate what will happen and how the student must protect from the imbalance, but the experience to balance themselves on the Flymoon® is non-transferable and the teacher indications about the muscles won't help much. It's just necessary to give them confidence, to have security strategies (something in which the student can hold on to) and time for adaptations to happen.
From the experience of observing how students deal with the instability of the Flymoon® -  that takes off the commonplace, transforms the weight-bearing relationship over the feet, causes insecurity, laughter, fear, excitement and unexpected reactions -, I realized that:
1. It takes time to handle the instability;
2. It is pointless to make indications on the voluntary muscle actions; and,
3. It is absolutely necessary to provide trust and confidence by being near the student and through prior indications about how to leave the risk position, where to hold on to and having a helpful and friendly attitude, providing indications that physiologically situate the experience, and recognizing and accepting the personal difficulty to that uncomfortable experience of loss of control over the own balance.

It is absolutely ineffective to make any indication similar to: 'hold by the abdomen', 'keep your arms relaxed', or other proposals like this, when the student is unwittingly trying to keep his/her balance. It was from these notions constructed by experience with the instability of the Flymoon® on students that I saw paths to a methodology with less motion directions and more space for the insertion of a Poetic Dimension to people's lives, through personal investigation of movement, through the creative experience, through the 'empty', through the recognition of one's Internal Authority, and the possibility of questioning fast rules.
Foto: Tatiane Chitão

Na primeira vez que alguém sobe na Flymoon®, é preciso sensibilidade do professor. Em geral, o professor só pode indicar superficialmente o que vai acontecer e como o aluno deve se proteger do desequilíbrio, mas a experiência de equilibrar-se sobre a Flymoon® é intransferível e as indicações musculares do professor ajudarão pouco. É preciso simplesmente dar-lhe confiança, estratégias de segurança (algo no qual ele possa se segurar) e tempo para que as adaptações aconteçam.

A partir da experiência de ver como os alunos lidam com a instabilidade da Flymoon® – que tira do lugar comum, transforma a relação de descarga de peso sobre os pés, provoca insegurança, riso, medo, entusiasmo e reações inesperadas –, percebi que:


1. É necessário tempo para lidar com a instabilidade;

2. É inútil fazer indicações de ações musculares voluntárias; e,
3. É absolutamente necessário oferecer confiança e segurança estando próximo ao aluno e através de indicações prévias sobre como sair da posição de risco, onde se segurar e uma atitude atenciosa e acolhedora, oferecendo indicações que situem, fisiologicamente, a experiência, e reconhecendo e acolhendo a dificuldade pessoal àquela experiência desconfortável de perda de controle sobre o próprio equilíbrio.

É absolutamente sem efeito qualquer indicação do tipo: ‘segure pelo abdome’, ‘mantenha os braços relaxados’, ou outras propostas desse tipo, quando o aluno está involuntariamente tentando equilibrar-se. Foi a partir dessas noções construídas pela experiência com a instabilidade da Flymoon® nos alunos, que vi caminhos para uma metodologia com menos indicações de movimento e mais espaços para a inserção de uma Dimensão Poética à vida das pessoas, pela investigação pessoal de movimento, pela experiência criativa, pelo ‘vazio’, pelo reconhecimento da própria Autoridade Interna, pela possibilidade de questionar regras prontas. 


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Research and creativity through the moving body / Pesquisa e criatividade pelo corpo em movimento

For Paulo Freire: "there is no teaching without research and research without teaching."
And he explains:
 [...] From my understanding, what is there of a researcher within the teacher is not a quality or a way of being or acting that is added up to the teaching. The quest, the search, the research are part of the nature of the teaching practice. What is necessary is that, throughout their ongoing education, the teachers perceive and accept themselves - because they're teachers - as researchers. (FREIRE, 2009, p. 29)
The same way as Freire (2009), which argues that teachers must be understand themselves as researchers and take over the investigation as a life attitude, Winnicott (1975) states that there is a link between creative living and living itself. For him, people living creatively feel that life is worth living, while those who cannot live creatively have doubts about the value of living.
But ... how to exercise students' creativity in just 2 hours a week? How to convince people of the importance of a less directed and more creative activity? How to justify the methodological change? How to make the "empty" of improvisation less scary?

These were questions that began to find answers during my practice derived from the instability provided by the Flymoon®.












Para Paulo Freire: “não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino”. 
E ele explica:

[...] No meu entender o que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa. O que se precisa é que, em sua formação permanente, o professor se perceba e se assuma, porque professor, como pesquisador. (FREIRE, 2009, p. 29) 

Assim como para Freire (2009), que defende que o professor precisa entender-se como pesquisador e assumir a investigação como atitude de vida, Winnicott (1975) afirma que há um vínculo entre o viver criativo e o viver propriamente dito. Para este, as pessoas que vivem criativamente sentem que a vida merece ser vivida, enquanto aqueles que não podem viver criativamente tem dúvidas sobre o valor do viver. 

Mas... como exercitar a criatividade dos alunos em apenas 2 horas por semana? Como convencer as pessoas da importância de uma atividade menos dirigida e mais criativa? Como justificar a mudança metodológica? Como fazer “o vazio” da improvisação menos assustador?

Essas foram perguntas que começaram a encontrar respostas na minha prática a partir da instabilidade proporcionada pela Flymoon®.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Flymoon®: technique and poetics / Flymoon®: técnica e poética

It has been incredibly rewarding to realize how the Flymoon® equipment - designed to subvert gravity, to make dream and that was recreated for ankle mobilization, muscle strength, flexibility, balance work, strength, proprioception, among other motor aspects - is useful to environments of which I've always been a part of, but which barely dialogued: the dance and the Pilates studio. This creation finally brings closer, moves and gathers aspects there were always present and that are very important in my professional path: technique and poetics.

Dancers, acrobats, circus artists, yogis, athletes, rehabilitators, players, educators, children and all tribes: welcome to the Flymoon® and its Poetic Instability and enjoy!
Apresentação do espetáculo Ideias de Teto, Salvador, Bahia, Brasil, 2003. Eu grávida!

Apresentação do espetáculo Ideias de Teto, Salvador, Bahia, Brasil, 2003. Eu grávida!

Apresentação do espetáculo Ideias de Teto, Salvador, Bahia, Brasil, 2009.

Apresentação do espetáculo Ideias de Teto, Salvador, Bahia, Brasil, 2009.

Apresentação do espetáculo Ideias de Teto, Salvador, Bahia, Brasil, 2010.

Aula de Flymoon® para o Balé do Teatro Castro Alves (BTCA), Salvador, Bahia, Brasil, 2014.


Aula de Pilates + Flymoon®. Alunos de Daniele Denovaro. Physio Pilates Ondina, Salvador, Bahia, Brasil, 2013.

Aula de Pilates + Flymoon®. Alunos de Daniele Denovaro. Physio Pilates Ondina, Salvador, Bahia, Brasil, 2013.


Aula de Flymoon® para o Balé do Teatro Castro Alves (BTCA), Salvador, Bahia, Brasil, 2014.

Aula de Flymoon® para o Balé do Teatro Castro Alves (BTCA), Salvador, Bahia, Brasil, 2014.

Turma de Formação em Flymoon® Salvador, 2014.

Turma de Formação em Flymoon® Brasília, 2014.

Turma de Formação em Flymoon® Brasília, 2014.

Aula de Pilates + Flymoon®. Aluno de Duda dos Anjos. Gregório, 90 anos. Physio Pilates Ondina, Salvador, Bahia, Brasil, 2013.

Tem sido incrivelmente gratificante perceber como o equipamento Flymoon® – criado para subverter a gravidade, para fazer sonhar e recriado para mobilização de tornozelo, fortalecimento muscular, flexibilidade, trabalho de equilíbrio, força, propriocepção, dentre outros aspectos motores – serve a ambientes dos quais sempre fiz parte, mas que muito pouco dialogavam: a dança e o estúdio de Pilates. Essa criação finalmente aproxima, transita e reúne aspectos sempre presentes e muito importantes no meu trajeto profissional: técnica e poética. 

Dançarinos, acrobatas, circences, iogues, esportistas, reabilitadores, brincantes, educadores, crianças e todas as tribos: bem vindos à Flymoon® e sua Instabilidade Poética e aproveitem!